Metafísica no pensamento contemporâneo, considerações do pensamento de Habermas

terça-feira, 8 de junho de 2010




Habermas mostra que esta discussão voltou a ter destaque na ultima década a partir de duas direções específicas, a primeira é no sentido de reabilitar a metafísica no molde clássico ou kantiano, e a segunda no sentido oposto, o de forçar a metafísica a responsabilidade de um pensamento de unidade próprias a filosofia do sujeito e a filosofia da história. Habermas então propõe uma terceira direção que vem em continuidade com a tradição kantiana e num nível filosófico-lingüístico; um conceito de razão cético e pós-metafísico, não derrotista
Permanecer na metafísica tradicional ainda escrava de seus mitos e presa a seu sistema de racionalidade ou optar por uma oposição ferrenha considerando o pluralismo mas sem dar unidade a um sistema racional permanecendo no relativismo? Este é o grande dilema de Habermas que procura resolver a partir de ma idéia alternativa.
Não existe diferença entre a filosofia das origens e a religião, uma vez que elas apontam para uma perspectiva contemplativa do conceito de verdade; neste sentido viver segundo a verdade é perseguir o caminho privilegiado da contemplação, a filosofia está referida à vida consciente, como se esta fosse um telos. A questão do uno e do múltiplo também é semelhante entre a filosofia das origens e a metafísica. Segundo Habermas, Kant foi o primeiro filósofo que tentou resolver os problemas da metafísica com relação à razão mas que ainda não resolveu problemas relativos ao sujeito.
Habermas acredita que a razão não pode mais fazer uso dos conceitos universalizantes e totalizador da metafísica tradicional, mas também não pode fugir ao desafio da metafísica negativa, que tem como enunciados; o todo é a inverdade, que tudo é contingente, que não existe simplesmente nenhum consolo e estes enunciados são promovidos mediante o uso da razão comunicativa tendo esta orientada para um telos. A defesa de uma incondicionalidade da razão tendo em vista a sua universalidade mostra a influencia de Habermas na filosofia ocidental e condiciona a filosofia a certas regras, a primeira é que ela esteja aberta a outras formas de saber, a segunda é um reconhecimento da falibilidade de seu discurso que vai em rumo a unidade, e por fim que todo o consenso formado em vista a unidade seja bem fundamentado de forma a assegurar o ideal de emancipação. Com isso Habermas mostra que sua defesa deixa a filosofia com um resíduo de metafísica, ele mesmo indica que; somente esse resíduo de metafísica permite que nos lancemos contra a glorificação do mundo através de verdades metafísicas com relação a isso diz: A razão comunicativa não passa certamente de casca oscilante – porém, ela não se afoga no mar das contingencias, mesmo que o estremecer em alto mar seja o único modo de dominar as contingencias.
Para H. Formato Metafísico e o Pensamento Filosófico são semelhantes na medida em que não é falibilista, como as ciências, nem pluralista como as interpretações da vida próprias a modernidade que se apresentam sempre no plural. A teoria da autoconsciência e a doutrina religiosa prometem um tipo especial de certeza enquanto ponto de fuga. Precisam ser vistas como verdadeiras e serem aceitas como uma instrução. No quesito da Metafísica a filosofia é a sucessora da religião num duplo sentido, ela a substitui, mas assume os motivos e os preenche a seu modo, motivos que fazem da religião o modo mais sublime de vida consciente. Em lugar do caminho salvífico entra o bios theorétikos como grau mais elevado de forma de vida. Aquilo que as religiões codificadas chamam de fé, significa no nível de pensamento; “viver nas e das idéias.

Teoria aristotélico-tomista do conhecimento humano das coisas

domingo, 15 de novembro de 2009


O conhecimento humano aristotélico-tomista começa tendo como base o fato de que a sua origem se dá mediante a faculdade sensitiva, pois tanto para Aristóteles quanto para Tomas de Aquino, é natural ao homem chegar, pelos sensíveis, aos inteligíveis, porque todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí vem o axioma de Aristóteles; Tabula rasa, que significa: folha em branco, mostrando que nada está escrito na alma, e que é a partir das impressões sensíveis e das idéias incorporadas que se constitui o acervo do conhecimento humano. Como Sócrates, a teoria aristotélico-tomista defende a essência das coisas como objeto para a ciência enquanto conhecimento, mas diferentemente de Platão, que a entendia inserida a partir de um mundo a parte; o mundo das idéias; fora da realidade sensível e da inteligível, a teoria aristotélico-tomista entende a essência a partir da sua existência na realidade sensível, compreendendo-a como universal, tendo a sua existência na inteligência e seu fundamento na realidade concreta, entretanto essa teoria defende que não é somente nas coisas sensíveis que o conhecimento intelectual tem suas fontes; não se pode dizer que o conhecimento sensível seja a causa perfeita e total do conhecimento intelectual, ele é antes a matéria da causa desse conhecimento, então se acredita que o conhecimento intelectual se estende para além da experiência sensível buscando alcançar o nível das idéias cujo conteúdo é a essência universal, e isso se dá, pois, enquanto essência existente nas coisas, elas são inteligíveis apenas em potência, para se tornarem inteligíveis em ato precisam ser abstraídas de suas condições concretas, particulares e sensíveis, e isso ocorre mediante a um processo que Tomas de Aquino chama de intelecto agente e intelecto passivo, para entendê-los faz-se necessário a compreensão de Deus em Tomas de Aquino; para ele, somente Deus é ato puro, não está em potência, todos os outros entes estão como todos os seres inteligíveis mediante a potência do ato, o conhecimento que Deus tem é ato puro, conhecendo imediatamente a si mesmo, e simultaneamente todas as coisas pois todas as coisas procedem dele, tem nele sua causa, preexistem em seu intelecto. Ora, não é possível algo passar da potencia para o ato sem ser por um ente em ato, como as coisas estão em potência necessitam de um ente pelo qual as formas da matéria estejam inteligíveis em ato, o nosso intelecto estando em potencia não pode abstrair o inteligível das coisas, estes não estão nas coisas em ato, dessa forma, o intelecto agente, faz a passagem para ato do inteligível e coloca-os no intelecto possível que atualizado pelas espécies inteligíveis gera o conceito ou imagem expressa inteligível, é necessário compreender que; o intelecto agente tem como dever o fato de ser imaterial, o intelecto possível também o é, mas o que faz o intelecto agente ser superior é o fato de que o intelecto possível é essencialmente potencial em relação à atividade intelectiva, e o intelecto agente é essencialmente ativo em relação a essa atividade, então se caracteriza essencialmente por sua atividade imaterial, portanto conclui-se que nada pode ser levado a ato senão por um ente em ato, e é dessa forma que ocorre a passagem do inteligível em potência para o inteligível em ato, abstraindo então da imagem da fantasia à essência universal representada pela idéia, pelo conceito, explicando então o conhecimento humano das coisas a partir da teoria aristotélico-tomista.

Tomas de Aquino e a prova da existência de Deus a partir da contingência do mundo

terça-feira, 10 de novembro de 2009


Para compreender a argumentação referente a prova da existência de Deus por meio da contingência do mundo, faz-se inicialmente necessário a análise da compreensão acerca da eternidade a partir de Tomas de Aquino para ele, seguindo um padrão grego e aristotélico de infinito positivo e negativo, existem duas formas de eternidade, uma eternidade negativa e outra positiva, a primeira é entendida como limitada, incompleta e imperfeita, aquela que não possui toda a perfeição, mas é eternidade enquanto não goza de um início ou término no tempo, possui o ser relativo, não como o ser completo, dessa forma é contingente, pois não tem toda a perfeição não gozando assim da possibilidade de ter em si a razão de si. E a segunda, a eternidade positiva é sem limites, posse perfeita de uma vida interminável, é o puro ser e não pode não ser, é uma eternidade necessária, ela convém somente a Deus.
Entendendo este principio se pode observar que, na eternidade negativa, estão as coisas, o mundo pois é contingente, sendo contingente não tem em si a razão de si, a partir disto é necessário uma compreensão a respeito da essência e da existência das coisas ou do mundo. É importante salientar que a essência e a existência para Tomas de Aquino são coisas distintas, sendo assim, a essência não confere às coisas a existência, fica então um questionamento, quem a confere? Outro ser, este ser que confere existência a uma determinada essência é necessário para que ela de fato exista. Então esta essência que recebeu a existência é contingente porque não tem em sua essência a razão de sua existência mas tem no ser necessário a sua razão de ser. Portanto o contingente vem do necessário, a existência dos seres contingentes então implica o ser necessário. Deve-se ponderar o fato de que não existem somente seres contingentes, e estes não são estendidos até o infinito, pois se assim o fosse não existiria um ser absolutamente necessário, Tomas de Aquino resolve este problema trazendo a idéia de que deve haver um ser necessário por si mesmo, razão de ser de todo o ser contingente, somente ele seria, pura e simplesmente necessário, ele não está na mesma ordem que os demais, é qualitativamente superior. Neste ser a essência é idêntica a existência, tendo então a razão de sua existência a sua própria essência, além disso, ele é a causa da existência dos demais seres. Este ser no qual foi demonstrado a sua existência, todos reconhecem como Deus. Ele não encontra a causa de sua necessidade, mas é a causa da necessidade para os outros.

neque enim quaero intelligere ut credam, sede credo ut intelligam - A razão e a fé em Santo Anselmo

segunda-feira, 26 de outubro de 2009


Anselmo parte da fé enquanto fundamento, um ponto de partida, uma pilastra de toda a construção racional. Por isso, para Anselmo, toda investigação racional é uma tarefa sacra uma vez que os seus conteúdos são sagrados, a inteligência pressupõe a fé e a fé busca a inteligência, a razão move-se sempre a partir da fé. Anselmo se opôs aos dialéticos pois estes não davam primazia à fé, mas também criticou aqueles que não davam a razão o seu devido valor, ele mostrou que de um lado a fé busca a inteligência e de outro é a inteligência que ilumina a fé, colocando a razão como a mediadora entre a fé e a visão. Embora Anselmo esteja ciente de que a inteligência é inadequada para compreender os mistérios de Deus, ele incentiva a fazer o máximo de esforço intelectual para a compreensão, ele acredita que as verdades da fé não são redutíveis a razão, mas podem (com suas limitações) se tornar transparentes a razão; Anselmo deixa claro que não deseja simplificar os dogmas em fórmulas racionais, portanto não procura eliminar a fé e o mistério. Para ele é Deus que dá a fé como também ilumina o intelecto para compreender aquilo que o crer pede para entender, dessa forma, tanto o crer quanto também o entendimento da fé são dons de Deus.

O dinamismo e a idéia dos contrários em Heráclito

domingo, 5 de julho de 2009


Heráclito tem no dinamismo o principio essencial do physis pois ele necessariamente, gera, sustenta e reabsorve as coisas, os filosofos de Mileto já haviam pensado no dinamismo, mas foi Tales que sistematizou a idéia, através de sua máxima Panta Rhei (Tudo flui) ele defende a idéia de movimento, nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta, sem exceção – “Tudo se move, tudo escorre”
Sua afirmação: "não se pode descer duas vezes no mesmo rio”, remete a percepção de que, nos deparamos em um segundo momento no rio com outra agua, e também mediante uma outra pessoa, diferente da primeira
Uma das máximas de Heráclito foi o dizer “Nós somos e não somos”; A medida em que somos algo não somos mais aquilo que eramos no momento anterior, portanto para continuarmos a ser, precisamos viver continuamente o não-ser. O devir (mudança que ocorre em todas as coisas) para Heráclito caracteriza-se por uma continua passagem de um contrario para o outro, as coisas frias esquentam, as quentes esfriam, as umidas secam, as secas umedecem, o jovem envelhece, o vivo morre, o morto renasce outra vida jovem,etc...
Ele também trouxe a noção de Harmonia dos Contrários, por ela Heráclito afirmava que existe uma guerra perpétua entre os contrários que se aproximam, é uma permanente conciliação dos contrários, pois aquilo que se opõe concorda consigo mesmo. Somente em contenda entre si é que os contrários dão sentido específico um ao outro, a doença torna doce a saúde, o cansaço torna doce o repouso, o trabalho torna doce o lazer, a injustiça torna doce a justiça, a tristeza torna doce a felicidade, a maldade torna doce a bondade...
Importante considerar que Heráclito em seu ensinamento, deixa claro que os opostos se coincidem; o caminho da subida e o da descida são os mesmos, eles são um unico caminho. Desta forma tudo é um, tudo deriva do um - sua noção de seguencia parte da forma circular O arché é entendido a partir do elemento fogo pois ele expressa de modo exemplar as características da mudança contínua, contraste e harmonia. O fogo é continuamente imóvel


Sofistas

domingo, 21 de junho de 2009


Sem dúvida os sofistas tiveram uma importância significativa para a filosofia, apesar de serem criticados por filósofos de peso, não há como desconsiderar a sua relevância. Podemos dizer que os sofistas eram os professores do saber, profissionais remunerados, que ensinavam a arte da argumentação e persuasão, estes conhecimentos constituíam elementos decisivos para o cidadão na democracia grega, há de se considerar que eles não tinham uma busca desinteressada na verdade, queriam obter lucros mediante aos ensinos, desta forma surgiram as criticas por Platão, Sócrates e outros aonde diziam que os sofistas eram aparentes e não efetivos por ensinarem doxa (opiniões) de um interesse específico sem se preocupar se era efetivamente a verdade. Importante destacar que os sofistas realizaram uma verdadeira revolução intelectual, deslocando o eixo da reflexão da physis (natureza) e do cosmos para o homem e para aquilo que concerne à vida do homem como membro de uma sociedade, eles contribuíram para a mudança da perspectiva cosmológica para a ênfase nos problemas antropológicos, privilegiando também a nomos (lei) no lugar da physis. Com os sofistas inicia-se o período humanista da filosofia os temas predominantes foram relacionados com a cultura; ética, política, religião, educação, arte. Uma contribuição importante dos sofistas foi com relação a Areté(virtude), eles trouxeram novo entendimento de Areté, até aquele momento se pensava que ela dependia da nobreza de sangue, acreditava-se que se nascia virtuoso, na época, a virtude estava também muito ligada com o aspecto físico, acreditava-se que o guerreiro era virtuoso, pelo fato de estar destinado a se envolver em perigos na guerra, para eles virtuoso era aquele que se submetia a bela morte, o morrer jovem em guerra. Os sofistas trouxeram a relação da Areté com o saber; virtuoso é aquele que tem uma participação ativa nas atividades políticas (polis). Com isso os sofistas se oporam aos aristocratas, esses defendiam que se nasce com a virtude, que ela não é apreendida, já os sofistas acreditavam que o saber (virtude) pode ser adquirido, foram também chamados de iluministas gregos por darem confiança ilimitada nas possibilidades da razão, valorizavam um juízo a partir do próprio homem, defendendo a concepção de que não há um verdadeiro absoluto. Não se pode deixar de reconhecer as influências que os sofistas tiveram de suas origens nas colônias gregas; a primeira é o fato de estarem a par da tensão entre o “Ser” vindo da escola eleata (Parmênides) e do “devir”, falado por Heráclito, a segunda influencia é absorvida mediante um ideal de Heródoto no qual, se afirma que; aquele que vence hoje, será o derrotado de amanha, de modo que os sofistas viam uma igualdade grega perante outros povos, e por tanto, não se fixavam tanto em leis, regras, costumes e idéias dos gregos, eles exaltavam a tensão entre as idéias contrárias, opiniões que lutavam entre si.

Conhecimento a partir de Heráclito e Parmênides

segunda-feira, 8 de junho de 2009


Os primeiros filósofos tinham uma preocupação na forma de como se dava o conhecimento, Heráclito e Parmenides foram dois grandes filósofos que se diferenciavam com relação a verdade e o conhecimento. Heráclito acreditava que tudo não cessa de se transformar perenemente, portanto, via o conhecimento mediante a dois aspectos, primeiramente o conhecimento dos nossos sentidos e, por segundo, o conhecimento que o nosso pensamento alcança, o primeiro nos oferece a imagem da estabilidade e o segundo alcança a verdade como mudança contínua. Parmênides diferentemente de Heráclito acreditava que o conhecer é alcançar o idêntico, o imutável, para ele o conhecimento é gerado pelo entendimento daquilo que o ser é em sua identidade profunda e permanente, em sua identidade imutável.